Desencadear Processos, Sem Impor Soluções

Os grupos e organizações criam por vezes uma linguagem própria, modos de dizer e de fazer que permitem desenvolver a sua identidade. O grande desafio é não deixar que essa linguagem e modo de ser se transformem num código hermético que bloqueie a capacidade de comunicar, de escutar e de ser escutado com disponibilidade e atenção.

Gostávamos por isso que a comunicação dos Projetos da FGS pudesse ser um contributo sincero para uma conversa franca com aqueles que vão fazendo caminho connosco. Nesse sentido, há um pequeno “refrão” que pode servir de pano de fundo à leitura daquilo que fazemos: estamos mais preocupados em desencadear processos do que em impor soluções ou medir resultados.

Avaliar e medir resultados é naturalmente importante. Mas educar implica que cada pessoa tome consciência que aprender o mundo, ir desenhando um projeto de vida próprio não se coaduna com processos automáticos ou com soluções impostas de fora para dentro. E o que se diz de cada pessoa diz-se também de cada Escola, de cada comunidade educativa.

Nos diferentes projetos em que nos envolvemos, partimos sempre desta premissa. O ponto de partida é sempre a realidade. Não vale impor soluções, ideias ou inovações que não surjam de necessidades diagnosticadas conjuntamente no interior de cada comunidade. Procuramos por isso aproximarmo-nos de cada realidade com total disponibilidade para a escuta, não como consultores ou especialistas, mas como companheiros de caminho.  Queremos facilitar processos de leitura crítica da realidade, queremos propor um discernimento que permita encontrar um horizonte comum inspirador das escolhas que cada pessoa e comunidade ao desenvolverem o seu projeto de vida e o seu projeto educativo.

Vivemos tempos de enorme polarização e em cada um dos polos há a tentação de dogmatismos incapazes de escuta e de diálogo. Na tentativa de tudo reduzirem à sua lógica, estas polarizações bloqueiam demasiadas vezes o sentido crítico. Mas bloqueiam também a capacidade de desenvolver processos longos que exigem espera e amadurecimento, preferindo soluções redutoras impostas desde fora. 

Na FGS privilegiamos os processos, não queremos impor soluções. Neste percursos inspira-nos o Papa Francisco:

 “Dar prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os em elos duma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes. Sem ansiedade, mas com convicções claras e tenazes.”

Contamos com todos e todas neste caminho. A vossa escuta, a vossa crítica atenta será para nós um convite a comunicar cada vez melhor o que somos, o que fazemos e como o fazemos.

Obrigado por estarem connosco!

José Maria Brito (Presidente da Fundação Gonçalo da Silveira)

Nasceu no Porto em 1976. Aí viveu até 1998, ano em que entrou na Companhia de Jesus. Nesse mesmo ano completou o seu Bacharelato em Comunicação Social na Escola Superior de Jornalismo no Porto. Como Jesuíta estudou Filosofia em Braga e Teologia em Madrid e em Boston. Pastoralmente dedicou-se durante vários anos ao trabalho nos Colégios dos Jesuítas em Portugal. Foi ordenado sacerdote em 2010. Em 2016 esteve seis meses no Quénia para fazer a terceira Provação, etapa conclusiva da sua formação como Jesuíta. Desde setembro desse ano assumiu a missão de dirigir o Gabinete de Comunicação dos Jesuítas e de preparar o lançamento do Ponto SJ, de que é diretor. Atualmente é Presidente da Direção da Fundação Gonçalo da Silveira.