As Eleições Europeias sob o ponto do clima

Durante a semana de 27 a 31 de maio a FGS | Fundação Gonçalo da Silveira, em colaboração com o Ponto Sj através da rubrica Ponto Cruz, promoveu vários momentos de reflexão sobre o tema do clima, a propósito das eleições europeias

O objetivo central era o de refletir a várias vozes e em vários formatos. Além de uma conversa, convidamos três pessoas para escreverem sobre este tema a partir de três perspectivas de análise: ética, pedagógica e espiritual

Para desenvolver a perspetiva ética, convidámos o Francisco Ferreira da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável que refletiu sobre o futuro do Pacto Europeu, assumindo que:

O Pacto Ecológico Europeu foi um ponto de partida, catalisando parte da mudança de sistema de que necessitamos, fortalecendo a credibilidade internacional da União Europeia, mas temos de avançar mais. (…) É necessário um Pacto Europeu para o Futuro, um novo acordo verde e social. Este plano de ação de esperança e coragem é para agora, para amanhã, para as gerações jovens e futuras, permitindo à geração mais velha deixar um legado de um mundo em que vale a pena viver. 

Através de uma perspectiva pedagógica, Joana Rigato convida-nos para uma aprendizagem através da natureza

Com a natureza, tenho aprendido muito, e acredito que estas lições são sabedoria evidente para quem cá vive desde sempre. Tenho aprendido a investir o meu tempo e cuidado no que ainda não se vê motivada pela fé no futuro.

Numa vertente espiritual, o Jesuíta Afonso Espregueira abordou a ecologia através da sua integralidade.

De facto, falar de desenvolvimento integral hoje não pode excluir a dimensão ecológica. Um meio ambiente saudável (ou não) tem impacto sobre a saúde, a economia, a disponibilidade de recursos… No fim de contas, afecta toda a ação humana, já que o ser humano faz parte do ecossistema. Inversamente, a nossa ação afecta o meio ambiente, positiva ou negativamente. Trata-se de um círculo de influência mútua, que pode ser vicioso ou virtuoso. Desta forma, pensar a política e a maneira de viver em sociedade deve forçosamente ter em conta a nossa relação com a Casa Comum e pede uma abordagem holística, que, por incluir mais variáveis, é mais complexa e traz mais nuances. As visões dualistas a preto e branco não são, portanto, úteis para fazer face aos desafios atuais.

As palavras saíram do papel e “viajaram” até Évora, mais precisamente à Associação Casa do Monte, onde houve tempo para conversar. Sílvia Franco (FGS), Rita Rosado (Associação Casa do Monte), Maria Ilhéu (Universidade de Évora) e Leonor Centeno (Moderadora), encheram este painel de ideias desafiadoras de um futuro mais sustentável.

A Associação Casa do Monte nasceu do desafio lançado pelo Papa Francisco, através da encíclica Laudato si’ sobre o Cuidado com a Casa Comum. Pelas palavras da anfitriã, Rita Rosado, a Casa do Monte surge enquanto pilar entre a espiritualidade, a educação e a ecologia, na tentativa de construção de uma visão holística, integral e, por isso, de equilíbrio do mundo

Sílvia Franco (Equipa Cidadania Global e Desenvolvimento) referiu que a Educação para a Cidadania Global é o motor do trabalho da FGS. É uma resposta para fazer face às interdependências (globais e locais) que atualmente dominam o mundo.

Maria Ilhéu abriu a sua intervenção com uma pergunta: o que é a Natureza? Respondendo que é tudo o que existe na terra:

como um animal atuante e dinâmico e em nada exterior. (…) Nos tempos mais recentes e nesta parte do mundo (Europa, mundo ocidental), o nosso modo vida promove um desligamento com o mundo natural. Vivemos alienados, olhamos para a natureza como um sistema de objetos do qual não fazemos parte. Precisamos cultivar a experiência da relação com a natureza com reciprocidade, não há sustentabilidade sem troca comum, sem um chão comum. Precisamos cultivar a reverência, a delicadeza das relações: de nos pertencemos uns aos outros.

O dia já ia longo quando esta conversa terminou na Herdade Vale de Moura, em Évora. Da parte da FGS apenas podemos agradecer a todas/os pelos contributos reflexivos num momento de decisão, como iremos ter no próximo domingo (no dia 9 de junho). 

Em baixo, pode assistir na íntegra a esta conversa. 

Muito obrigada.