Imagine Peace

Por se encontrar tão desconexo com a realidade, imaginar a paz parece ser cada vez mais um exercício utópico. A crise global que experienciamos, ao nível económico, social, político e ambiental mostram uma sociedade fraturada por fragilidades e desigualdades muito profundas. Por outro lado, o aumento da tensão internacional, devido à invasão da Rússia à Ucrânia, juntamente com os 46 conflitos armados ativos, levam o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) a concluir que a falta de estabilidade e de segurança internacional ameaçam severamente a  sobrevivência do planeta. 

Nunca foi tão urgente recuperar a utopia, mas também nunca foi tão necessário promover reflexões e análises com pressupostos analíticos que consigam cruzar diferentes escalas espaciais e temporais, bem como abordagens globais e multilaterais. Imaginar a paz num mundo em crise é, hoje, absolutamente fundamental e necessário. 

Para uma Revista como a Sinergias, que pretende construir-se enquanto plataforma de reflexão e de estudo sobre as práticas no campo da Educação para o Desenvolvimento/ Educação para a Cidadania Global/ Educação para a Transformação Social, tornou-se imperioso imaginar e construir a Paz. Assim nasceu o 15º número da Revista Sinergias, “Imagine Peace”: a educação para o desenvolvimento e a construção da paz

O título apropria-se da obra artística de Yoko Ono “Imagine Peace”, que da vanguarda do pensar e agir contra a Guerra do Vietname até ao presente se vem reinventando como voz pela Paz. Do Vietname à Ucrânia, o mundo nunca conheceu um dia de paz, por isso “Imagine Peace” é, sobretudo, um processo de imaginação do mundo em paz e do que podemos fazer por ela.

Neste sentido, ao longo desta 15 edição, pode encontrar contribuições focadas na investigação e/ou na prática, em contextos educacionais formais e não-formais, no Sul e Norte globais e que utilizam várias expressões e linguagens ( além da escrita), mas que mantêm o foco no papel que a Educação para o Desenvolvimento pode ter na construção de uma paz que transforme a utopia em realidade.

Por exemplo, Manuela Mesa (no prefácio), que conceptualiza o conceito de paz positiva, a partir do sociólogo e teórico norueguês Johan Galtung, enquanto alternativa ao foco tradicional da paz, pela ausência de violência. Para este sociólogo, a paz positiva está ligada à necessidade de criação de condições sociais, políticas e económicas que fomentem a justiça, a igualdade e a dignidade humana. Neste quadro teórico, o conceito de paz positiva é multidimensional, que inclui a promoção da justiça social enquanto “arma” de garantia da paz.

Ou por outro lado, a partir do lugar de enunciação de Teresa Cunha (no editorial), que conceptualiza a paz, a partir do lugar de mulher, inteletual feminista e ativista de movimentos pacifistas. A sua contribuição pode resumir-se a três lugares de asserção: primeiro, os sistemas de opressão e de exploração, presentes na contemporaneidade, são interseccionais e não se pode pensar em paz sem justiça; segundo, a justiça e a paz não podem ser abordadas através de uma conceptualização abstrata e universal, organizada em categorias e sub-categorias, níveis e âmbitos todos definidos a partir de um mundo alheio e distante, tanto geográfica quanto epistemologicamente, daquele onde queremos que emerjam e se realizem; em terceiro, a paz e o viver bem são processos complexos, diversificados e polifónicos, construídos a partir de estórias do passado e do presente, da imaginação do futuro e das múltiplas experiências da vida humana e não humana. Para Teresa Cunha, 

“(…) é necessário resgatar as visões de paz e de viver bem, a partir de baixo, valorizando as sabedorias ancestrais e os instrumentos que todas as culturas têm para imaginar a sua harmonia, a sua felicidade, justiça e resolver os seus conflitos de uma forma positiva e transformadora e sem recorrer à violência que amputa a dignidade da vida que deveria ser garantida.”

O exercício de imaginar a paz continua, a várias vozes, entre vários modelos de abordagem: caderno temático; práticas e debates. No fundo, esta 15º edição da Revista Sinergias tenta concretizar, aquilo que Paulo Freire expressou enquanto esperançar coletivo por uma paz substantiva com justiça e bem viver para todas e todos, cuidando da nossa Mãe Terra!  

Pode aceder à revista completa, aqui

Boas leituras sinergéticas!

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