“O nosso trabalho ecológico precisa de ser integral, caso contrário torna-se vazio de sentido”

No dia 19 de março, a FGS recebeu a visita do P. Xavier Jerayaj sj, atual Coordenador Mundial do Setor Social dos Jesuítas. A partir das suas experiências e realidades, tivemos a oportunidade de conversar sobre os desafios que se colocam hoje à transformação social e de apresentar o trabalho que temos procurado desenvolver na FGS de forma consistente no combate às desigualdades e às injustiças sociais.

Para assinalar este encontro, colocámos algumas questões ao P. Xavier:

 

Em que medida está a ecologia integral ligada à transformação social?

Ecologia Integral significa, antes de mais nada, pessoas. Falar em Ecologia Integral é ir além de árvores e de plantas… sem as pessoas, o conceito torna-se inútil. Penso especialmente nas pessoas que historicamente têm um maior vínculo com a natureza, como é o caso dos povos indígenas. Se desconectarmos essas pessoas da terra, da água, dos recursos dos quais têm vivido, estamos a desintegrá-las da natureza. O nosso trabalho ecológico precisa de ser integral, caso contrário torna-se vazio de sentido.

Todo o nosso trabalho tem que estar simultaneamente conectado com as pessoas e com a Terra que está a ser poluída, destruída, abusada. E atenção que não me refiro ao uso mas ao abuso da Terra. Grandes Empresas têm sido responsáveis pela exploração de minerais, por exemplo, que deixam a Terra como um deserto. Se pararmos para pensar nas pessoas que vivem perto destas realidades e que dependem da floresta, percebemos que deixam de ter cultivo, flora, fauna… é o colapso da Ecologia. Para estas pessoas a Terra é Deus, é a Pachamama (Mãe Terra).

 

Como sensibilizar numa sociedade tão veloz como a de hoje?

Vivemos numa sociedade de rápidas mudanças, com imensa tecnologia, o que muitas vezes nos faz esquecer da natureza. Mas se pegarmos num exemplo, como os telemóveis que utilizamos diariamente, podemos lançar algumas questões provocatórias: que partes é que o constituem? Sabemos hoje que o cobalto é um dos minerais essenciais para garantir a rede nos telemóveis. Mas de onde vem? Qual a sua cadeia de produção? O que se passa no Congo de onde se extrai a maior parte do cobalto? Que recursos e pessoas são afetados?

Provocar esta consciência é muito importante para ilustrar os problemas e ajudar as pessoas a ler e compreender a realidade. Por vezes, ao perguntar aos miúdos de onde vem o frango, a resposta é “do supermercado”. Se não lhes for explicada, demonstrada, a verdadeira origem de tudo o que consumimos, não terão a capacidade de valorizar e cuidar o que usam.

 

Que trabalho reconhece à FGS?

A FGS está comprometida com a área da Educação e essa é a melhor forma de informar as pessoas, os estudantes, os educadores.

Lembro-me de, em criança, chegar ao nosso terreno agrícola e ter de me descalçar. Era obrigatório retirar os sapatos porque aquele era um lugar sagrado de onde retirávamos a nossa comida. Este hábito permaneceu sempre muito importante para mim e ajudou-me a reconhecer a Terra enquanto lugar sagrado. Nem sempre é fácil transmitir esta informação aos alunos, à sociedade, mas se forem capazes de o fazer, acredito que eles aprenderão muito mais.

É essencial que todos estejam conscientes da nossa interligação e interdependência com a natureza. Somos apenas uma pequena parte de toda a Criação Global. O trabalho da FGS, em permitir que as pessoas se conectem com a natureza, em sensibilizar, nomeadamente através do sistema formal de ensino, é essencial.

 

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